O Douro será das poucas regiões vitivinícolas do mundo em que a mão humana terá contribuído para potenciar a beleza natural da paisagem.
Face a uma impossibilidade, o homem agigantou-se e encontrou uma enorme oportunidade.
Douro
Em 1756, o Douro torna-se a primeira região demarcada e regulamentada do mundo.
Em 2001, uma boa parte dos seus 247.000 hectares certificam-se Património Mundial da UNESCO.
Vinhas centenárias e novas plantações, 114 variedades autóctones que encontram berço em cenários por vezes quase dramáticos.
À rocha-mãe foram obtidos solos de xisto, protegidos em terraços e patamares que o homem criou para que a natureza continue a abençoar, nunca a destruir.
Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior formam as suas sub-regiões.
É nesta última que nascem os vinhos Cálem, onde mais recentemente — relativamente falando — se deu a epopeia humana que tornou o rio navegável até à fronteira com Espanha.
Aqui, a natureza é mais bravia, mais íntima. Enquanto o silêncio ecoa sobre si mesmo, a água ruma ao mar ao sabor de uma corrente educada por grandes feitos de engenharia. Sempre que subirmos a um miradouro, havemos de ouvir o comboio e adivinhar a nossa respiração. Daí, a cada vez, contemplaremos o anfiteatro natural que há séculos desafia os sonhos.
Este é o terroir da Cálem.
Durante dezenas de anos, os vinhos eram transportados até Vila Nova de Gaia por barcos rabelos, em desafio aberto aos perigos de um rio que estava ainda por domar.
Muitos arriscaram tudo em nome de um ofício que poucos estavam dispostos a aceitar, iniciando uma tradição de bravura que ainda hoje se associa com a Cálem.
Desde o primeiro momento até aos nossos dias, os vinhos Cálem envelhecem em Gaia, nos armazéns daquela que é a mais visitada das caves de Vinho do Porto. Ali beneficiam das condições excecionais de temperatura e humidade únicas à sua localização — entre o fim do grande rio, o Douro, e o início do imenso mar, o Atlântico.
Sujeitos a um rigoroso controlo de qualidade, todos os lotes estagiam de acordo com os métodos tradicionais que imperam desde 1859. Em balseiros, em cascos de carvalho e em garrafa. Sem pressas.
No entanto, nada conseguimos fazer para travar a “sede dos anjos”, que faz evaporar uma média anual de 3% do vinho que envelhece nos cascos.
Porque o vinho é também tempo.
E a verdadeira descoberta exige tempo.